Bloc Party – Girando para voltar ao mesmo lugar

Achar boas bandas na Inglaterra é tão fácil quanto apostar que Lionel Messi fará mais do que 30 gols em uma temporada do futebol espanhol. Há centenas delas pipocando por lá. Vê-las manterem uma sonoridade capaz de cativar o público e mercado fonográfico ávido pelo sucesso instantâneo via iTunes é um pouco mais complexo. Bloc Party é mais uma dessas bandas que explodiu com um disco excepcional e depois amargou um salto em um abismo recheado de críticas. Silent Alarm (2005) é um disco de quase reverência no cenário indie. Alçou o vocalista Kele Okereke e suas composições à condição de competir em popularidade – mais entre os críticos do que com os fãs – com bandas como Arctic Monkeys, Kaiser Chiefs, Guillemots e The Kooks. As letras inteligentes e descritivas de um cenário inglês da turma entre os 20 e os 30 anos moldaram um perfil de um talentoso compositor que sabia reproduzir bem o que se passava à sua volta. Tudo bem até o som eletrônico que fez parte dos dois albuns seguintes inundar a cabeça  e a sonoridade do Bloc Party. A queda musical é nítida nos dois CDs seguintes. Até o lançamento de Four (2012).

Quarto album da banda londrina Bloc Party tem rock pesado, sintetizadores, falsetes e letras com ligação futurística. Reunidos esses aspectos o resultado é um disco de retomada dos melhores dias da banda.

O álbum retoma o caminho de uma banda que esteve a poucas conversas de ser desfeita, mas que acabou por se reencontrar na medida em que apostou no seu som mais original. A música “So He Begins To” Lie traz um pequeno diálogo de estúdio e é um anúncio de que o som mais cru e menos elaborado – leia-se com menos, muito menos elementos de música eletrônica – está de volta. Não. Não há referências de futebol ou de cerveja como símbolos de um “ser britânico”. A banda aposta em uma variação de referências a John Wayne e Rob Roy permeada por momentos de introspeção e dúvida sobre uma paixão mal resolvida em “Octopus” e “Real Talk”.

Assim como fez a banda saltando de um pedestal para um limbo com sintetizadores e batidas sampleadas o álbum caminha para a pesada “Kettling” que faz clara referência aos incidentes de revolta popular na cidade, feito pelos jovens britânicos em 2010. E aí que se estabelece a diferença de Bloc Party para algumas das bandas da sua geração Brit. A capacidade de sintetizar e alinhar letras, baixo, bateria e guitarra a uma percepção londrina sem recorrer a repetições em seu próprio som dentro de um álbum. A faixa “V.A.L.I.S”, inspirada no livro de ficção científica homônimo de Philip K. Dick, é o ápice do disco pela melodia e crítica cultural à ideia de um futuro ligado a tantos movimentos dispersos e, às vezes, fugazes. É o caso da cientologia e outras “logias” às quais muitos se agarram para tentar explicar o mundo atual e o futuro que cada vez mais parece estar nos próximos quinze minutos ou gigabytes.

Voltando à origem diversificada de suas letras e utilizando a boa qualidade musical da banda, Bloc Party renova a análise de quem a colocou como um dos melhores grupos dos anos 2000 na Inglaterra. As viagens por terrenos tão díspares e tortuosos feitos pela banda nos últimos anos mostram que, muitas vezes, é necessária uma experimentação musical para evoluir e ganhar maturidade para produzir um bom álbum. Bloc Party foi do céu ao inferno. Com Four chegou de volta à Terra, pelo menos.